
A menina que acena lá longe para um mocinho distraído e ela mais, a saia voa, o carro passa, o cara grita "fiu, fiu, gostosa, hein?", e ela nem liga. Do outro lado aquele lá atravessa a rua e olha a menina, olha a menina, olha a menina, olha tanto que nem vê mais menina. Foi um bonde chamado desejo, foi uma divina comédia, a odisséia ou apenas a insustentável leveza do ser...Nunca ninguém saberá, o tempo urge - assim diria vovó - é preciso pressa para olhar cá dentro, é preciso não olhar, pois não há tempo.
Desnorteado, tentando entender que sua vida não era nada do que ele imaginava há cinco minutos, nosso mocinho entra no bar, acende um cigarro, e escreve - na cena mais clichê de cinema podre americano - era tudo espetáculo - e o barman com cara de simpático puxa conversa, o homem percebe e ignora, enquanto se perde naufragado naquele buraco de mar negro que contém o universo:
- um café, por favor.
Está aberta a sessão.