terça-feira, 22 de janeiro de 2008

sim, sim, sim. por que foi desses tantos nãos que o joelho fraquejou. cortocida, pequenina, nos cacos e feridas rasgadas de mim - te vi - mão na minha cabeça (menina), mão na minha mão, talvez fosse uma pequena ajuda, talvez fosse pena, vontade de sonhar sei lá, comigo. não, mais um deles e me despedaço, não vai pra lá, resta, aqui aqui aqui, perto de mim. e ele me enoja naquele blues desconcertante, gravata beterraba e seu olhar vexame. sou noivinha, querido, quero benção e um beijinho. quero bem - querer - faz bem. amar você. não. é que não. então sim. sim, sim, sim.

au revoir, mon amour.


é.

o.


fim.

domingo, 13 de janeiro de 2008

conto de criança.

O velho Chiquitinho sempre me foi colocado como algo de raro no mundo, um homem que se diferiria dos outros em sua natureza de espírito e na qualidade de seus feitos. Minhas tias me contavam que esse havia sido um raro político honesto, que dava dinheiro do seu próprio bolso para o povo, e que era muito, muito, querido. A Xica, que, criada pela minha bisavó Antonia, e que até hoje trabalha para a família, fez questão de passar tempos relembrando-se dos feitos do homem e me contando quão bom ele havia sido para ela e da saudade que sentia de seu tempo de menina, em que seu Chiquitinho mandava buscar muito leite fresco, farinha quentinha, pão novo e tudo mais em uma abundância inacreditável.

De fato, acredito que todos gostavam do meu avô, Francisco “Chiquitinho” Ferreira Figueiredo, mas acho que por várias veredas esconde-se a verdadeira pessoa atrás de todo esse mito. E assim adoraria tentar decifrá-lo. Um homem que, de tão mitificado, acabou virando uma espécie de esfinge sagrada em minha memória infantil. Um velho sentado em sua cadeira de balanço, ao fim da ladeira, através das portas e portões abertos da Rua das Pegas, nº 9, casa 13. Cantando os bem-te-vis, que ele chamava, camaleões, lagartas e lagartixas, entre redes e retratos na varanda. O velho, lá no alto, em seu pijama listrado (me lembro bem do amarelo), com bolsos bordados na camisa, donde sempre saíam dez ou vinte contos para que os netos da capital fossem até a quitanda da esquina se entupir de besteiras. Salgadinhos, pirulitos, picolés, juçara gelada, sorvete de tapioca, chiclete azul, coca-cola, guaraná, guaraná Jesus – sonho cor-de-rosa, sonho, sonho, sonho...

Na sua morte, eu, com apenas dez anos, me lembro de vários retalhos que constituíam um ser figurado, preso a um imaginário de contos de coronéis e cangaceiros. Um homem rústico e forte, quase como o senhor de uma pequena cidade do interior do Maranhão, São João Batista, à qual ele nomeou e abrigou sua família, parentes e desabrigados da região. Lembro-me da cidade toda presente ao funeral, uns se agarrando aos montes de filhos que ele havia deixado (dezesseis, se não me falham as contas); alguns chorando calados à espreita dos muros de gesso branco da casa; velhos conhecidos e parentes, como tia Dilú, desconsolados, aos prantos desenfreados dentro dos cômodos da casa; outros se amontoando, apenas de curiosos que eram, para ver aquele rosto já inchado, de lábios roxos, com pequenos algodões enfiados nas narinas e ouvidos, as mãos entrelaçadas em cima do peito, o ar calmo, sério; e eu criança, não associando o significado da morte, assustada com a fragilidade daquele avô, deitado no caixão, que parecia me sorrir, e na minha imaginação, até me mexer a mão. Aquela mórbida miragem me parecia como algo irreal, como se tudo não passasse, ali, de uma grande representação sertaneja, com um boneco de cera, velhas fotografias, o cheiro do café do interior, e vários figurantes em prantos, que para mim, tinham algo até de cômico. E foi assim que a morte apareceu pela primeira vez na minha vida: como uma mímese de um auto, extraído de um cordel qualquer de criança, feito para divertir e não para causar qualquer sofrimento. Então, chorei, chorei, sem entender por que, e tudo passou. Meu avô passou, mas o beija-flor ficou.

sábado, 12 de janeiro de 2008

argentina para nosotros

do outro lado da latina américa é onde ele me espera.
tem mãos ásperas, de quem sabe viver,
conhece meus segredos,
prevê os meus planos,
descarta minhas verdades.
ele me olha como nunca, como nada,
não procura...
sempre encontra.