terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Bon voyage !

nessa frança é difícil manter contato - humano. as gentes, as coisas, é tudo muito novo, muito doido. falta brasil na vida desse povo.

eu escrevi um roteiro. meu primeiro roteiro. cercado de telhas, cercado de sonhos, cercado de tempo, cercado dessa vontade minha - nossa - de fazer parte do infinito. no meu roteiro, um projecionista de cinema é o personagem principal. frustrado em seu casamento, em sua vida, em seu sempre-a-mesma-coisa, meu projecionista se apaixonada por essa menina. que entra em cena de maneira divina, sem fazer barulho, sem causar espanto, única, solitária, inocente, linda. a minha menina é apaixonada por um ator de filme mudo. a minha menina vai todos os dias ao pequeno cinema do projecionista. a minha menina vira a menina do meu projecionista. e a coisa anda de várias formas. o fato é que eles entram na tela do cinema, e eles são felizes. normal. por que não ?

por que o sonho não pode nunca ser mais forte que a realidade. é preciso drama, tragédia mesmo, é preciso que alguém morra para que a fantasia se realize. 

pelo menos foi o que me disse, de maneira sentencioza, a minha professora do curso de roteiro.  a felicidade fácil, tranquila, gera frustração. eu teria que matar meu projecionista. esse era o plano. ele morre, e então tudo acaba bem. tranquilo, cartasis. 

não. meu corpo todo implora a esses dedos que não teclem esse fim para a minha pequena história. mas, estamos em França, e lá fora os -3,5 graus afetam os afetos. sou eu navengando contra uma corrente de flocos de neve - 100 km/h - só agora entendo que o frio nesse mundo não é frio, é mal, é qualquer coisa que faz mal, que ultrapassa qualquer sentimento de frio, por mais intenso que fosse, que eu pudesse jamais sentir.

é desse frio que eu sobrevivo, dia-a-dia, aprendendo o "bonjour, monsieur" para o simpático rapaz de vinte anos sentado à minha direita na ida do trem.

sólido gelo estrangulando (meu) corações.

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