terça-feira, 7 de setembro de 2010
prosa descabida, desmedida.
vontade absurda de me deitar nesse emaranhado de lençóis e ficar aí. horas, dias, séculos. esperando para ver o que se passa. contar carneirinhos, fechar os olhos, abrir os olhos. eu já fui. eu me vendo lá daquele lado da cama, farta, exausta. eu vivo desses cansasos [da alma]. se eu me jogasse em uma latrina, se eu saltasse dessa janela, se eu ouvisse Bach, e me desse conta de que de fato nada existe. então aí sim, eu me meteria coberta de mármore debaixo dessa fronha, dentro desses braços nus, e meu ouvido quente me diria que sim. em lugar qualquer, ainda há um coração.
terça-feira, 24 de agosto de 2010
uma certa simpatia por genebra ?
Eu fiz essa descoberta e adoraria compartilhar. Sentada no ato mais clichê de todos neste starbucks no centro de Genebra, aproveito para roubar um pouco de internet e ler, ao som de um Marley bem usado, "O livro de areia" de Borges, em sua versão francesa e nostálgica dos seus últimos tempos em Genève. O que vem bem a calhar no momento. Daí tiro a minha grande conclusão : a literatura está sempre sempre tentando me salvar. E mais, acho que de vez em quando ela até que consegue. Os dois únicos romances que leio e li neste verão : "a insustentável leveza do ser" do Kundera e este tipo do Borges se passam de uma maneira ou de outra em Genève. Até então, a única figura com ar - mesmo que não dos mais nobres - literário que encontrei por Genebra, foi Paulo Coelho, que passou por mim perto de Bel-Air cité, entre os grandes bancos. Isso poderia ser um mau sinal, diriam muitos dos meus coleguinhas do curso de Letras, mas sei lá, tomei como coisa boa. Talvez seja mesmo a hora de acabar com esse meu horror por Genebra e começar a ver neste lugar um certo aprendizado : como uma cidade tão cinza e lenta pode ainda servir de cenário inspirador para essa minha amiga literatura. Aqui talvez não seja um lugar ideal para o meu cinema, as imagens são muito muito brutas, e esculpí-las seria um desastre. Mas esse ar genevois pode ser uma boa bruma inspiradora para metáforas e desvairios possíveis somente no mundo das letras. Estou começando a entender a voz calada desta cidade como algo de acidentalmente nobre, poético. Afinal, a tristeza é prato cheio para os versos. Vou aqui tentando andar de olhos fechados e ouvidos atentos para qualquer segredo que as brumas dos alpes queiram murmurar, e quem sabe um ou dois versos podem rolar por cá, por lá.
sexta-feira, 16 de julho de 2010
sexta-feira, 9 de julho de 2010
o que acontece é que eu perdi a paz. sinto que aos poucos um tipo de gelo foi tomando conta de mim, uma barreira inscosciente me transformando em uma moça bem educada. A primeira frase que ouvi na Europa foi : fale mais baixo, as pessoas aqui nunca falam alto. Nunca. o que acontece é que eu já perdi o fio das coisas, já nem sei mais quando é que eu deixei de ser eu e passei a ser eles. O fato é que é preciso tomar cuidado a cada passo que damos rumo ao norte. latinos não nasceram para esse tipo de migração, de clima, de estação. Cada frio que chega é de verdade, não é só ressaca de vento, é um sopro todo de gelo que vem de uma só vez e que ataca pele, sangue, espírito. Antes eu achava que tinha um negócio que pulsava aqui por dentro, agora há pedras, pedaços, cacos do que um dia já foi. Não era ainda a hora de vir para a Europa, talvez nunca fosse. O importante é entender que esses momentos chegam, a gente toma uma decisão e descobre um mundo triste, cheio de contradição. Quem dera eu pudesse voltar, poder voltar...já passou, é...passou.
sábado, 30 de janeiro de 2010
Abacaxi
À tes funérailles, ils ont servi du thé aux épluchures d'ananas.
Je n'ai pas compris pourquoi.
Un fruit si moche, instable.
Parfois sucré comme une poire, parfois acide à point de faire mal à la bouche.
On dit que c'est bien pour la mémoire.
Quisera eu, o abacaxi tivesse ajudado a não esquecer.
Je n'ai pas compris pourquoi.
Un fruit si moche, instable.
Parfois sucré comme une poire, parfois acide à point de faire mal à la bouche.
On dit que c'est bien pour la mémoire.
Quisera eu, o abacaxi tivesse ajudado a não esquecer.
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