
Só por que eu sei que aquela mulher escrevia coisas bonitas, não posso deixar de pensar nessa tristeza tão quieta que lhe habitava. E quando eu olhava para ela, ali, sempre tão calada e quieta, a sensação que me dava não era de paz...Era dor. Era a dor do mundo inteiro que aquela mulher carregava dentro de si. A vi poucas vezes, estive com ela todos os dias, desde que me entendi gente. Agora, o que sinto é um desespero inabalável de me sentir só, e triste, como ela. Todo artista é artista sem querer, é artista por que a vida não te dá outra chance de pegar o bonde.
É assim que eu tento escrever, sem muito método, sem muita teorização, para levar a vida como ela: humildemente em busca dessa liberdade.
E que liberdade mais cheia de apuros! Liberdade de todas as almas, de todas as vidas entrelaçadas. E esse olhar tristeza, que ela trazia com ela, era inquietante, assustador. E foi por medo desse olhar me julgar que eu resolvi escrever. Por medo de me perder. Por medo de não conseguir nem chegar perto de entender tudo aquilo que ela havia deixado para mim. E pra você. E pra você.
Sempre que sento nessa cadeira, que acendo a luz e coloco a caneca de café ao lado, eu não faço idéia do que vai sair. Sempre sou negativa e acredito que tudo acabou e que a fonte secou. Aí, lembro dela e tudo muda, de repente me vejo com cinco novos textos, vindos assim: do nada. Ou dela. Ela comigo e eu estou condenada ao selo eterno de escritora.
Que o universo conspire para que eu nunca me esqueça de Clarice Lispector.
E nem você. E nem você.