terça-feira, 29 de dezembro de 2009
Eles falaram para falar de guerra, comparar tristezas, atrocidades, sair vencedor de piedade. Eu não falo deles, aproveito para falar de mim. Por que de ego para ego fico com este cá, meu, único, vítima de mim e dessas impulsões racionais. Eu sou minha guerra, fui eu que escolhi ser ex-patriada, fui eu que optei por ser de outros e não dos nossos, fui eu quem quis, culpa mia, minha e única culpa de pedir exílio sem ter sido extraditada. Minhas batalhas são contra o vento, contra os rostos fantomáticos que passam como cinzas pela minha pele todos os dias, meus gritos solitários dedico ao asfalto, mais quente que eu mesma. Meu poder de convicção contra "mim" passou dos limites, e vou seguindo, me afastando, me afastando, heremita, cristã quase convertida nessa culpa, culpa minha, de ter me sufocado em não-melodias, nessa guerra diária contra o que vem lá de dentro, desta chama pequenina que arde forte e forte, tão amarela que fica verde, devagarinho, pequenininha, e desaparece nos gestos, caras e bocas apavorados, contidos, brancos, gelo. Eu e os gringos é igual a nada : vazio congelado.
domingo, 13 de dezembro de 2009
Aqui eu sou uma chata. Não gosto de nada, não ando com gente, ando pros lados, pendendo nos muros, agachada em edifícios. Virei selvagem, sobrevivente, me defendo entre as construções. Sou tão concreta que faço minhas confissões diárias às paredes, caras companheiras. Aqui, não amo nada nem ninguém, amo esse quarto, chambre, dos meus sonhos, como sempre quis, em vermelho passion, no piano, no cristo que brilha na minha cabeça, no Montblanc que me dá um alô pela janela. Mas é tudo quadrado, por que percebo que gosto mais dessas paredes de gelo do que qualquer coisa que se mexa nesse tipo de pontualidade natural. E é com uma certa tristeza, uma certa loucura, que entro no hit meio blues desse país : preferindo o sólido nu ao macio dos lábios...
domingo, 4 de outubro de 2009
Essa vida cinématica.
Só pra constar, eu gosto daqui, desse blog, dessa casa. Dá vontade de morrer aqui, nadar aqui, ser aqui. Dá vontade é de fazer da vida tudo isso, esse infinito tão grande e cheio de coisas boas.
Só queria deixar marcado : eu realmente gosto daqui.
sábado, 27 de junho de 2009
Mudar.
mudar é assim, a gente acha que foi, que deu o primeiro passo e que tá tudo novo, diferente, espatifado. Mas aí é que a gente vai se dando conta nonada, nada muda, tudo continua sendo sempre, 10% diferente, claro, por que o avanço ou o retrocesso são inevitáveis. Daí, vem a saudade, essa coisa feroz que bate fundo no peito que é pra não passar desapercebido. É quando eu analiso o caminho de largos passos e nada mais que apenas passos, o caminho ainda está intacto.
domingo, 21 de junho de 2009
Google translate.
Aqui os ares vão se arejando e mudando devagarinho. Tá na hora de voltar às origens e ler no bom e velho idioma do Camões modernizado. Tô virando eles, de biquinho e tudo mais. Esqueci do meu Chico, do meu Fulano, do meu Carvalho, fico só bebericando com Bashung e amando Brel. Tá na hora de arriar a saia de xita, e voltar a parler latino-americano.
terça-feira, 24 de fevereiro de 2009
da saudade.
nessa terra de gelo, encontro meu poetinha, gigante, arrepiando os pelos que nem se sabiam mais meus, trazendo coisa essa, que ultrapassa. esse negócio dessas gentes que se encontram pela vida, dão-se mãos, e partem juntos, eternos, numa caminhada à la Vinicius, pra te dizer que eu sei que vou te amar, por toda a minha vida...esse verde e esse amarelo ofuscando tristezas e arrasando desesperos. não sabemos ainda, mas nada há como este paraíso, agora tão longe, brasilís.
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009
terça-feira, 17 de fevereiro de 2009
Bon voyage !
nessa frança é difícil manter contato - humano. as gentes, as coisas, é tudo muito novo, muito doido. falta brasil na vida desse povo.
eu escrevi um roteiro. meu primeiro roteiro. cercado de telhas, cercado de sonhos, cercado de tempo, cercado dessa vontade minha - nossa - de fazer parte do infinito. no meu roteiro, um projecionista de cinema é o personagem principal. frustrado em seu casamento, em sua vida, em seu sempre-a-mesma-coisa, meu projecionista se apaixonada por essa menina. que entra em cena de maneira divina, sem fazer barulho, sem causar espanto, única, solitária, inocente, linda. a minha menina é apaixonada por um ator de filme mudo. a minha menina vai todos os dias ao pequeno cinema do projecionista. a minha menina vira a menina do meu projecionista. e a coisa anda de várias formas. o fato é que eles entram na tela do cinema, e eles são felizes. normal. por que não ?
por que o sonho não pode nunca ser mais forte que a realidade. é preciso drama, tragédia mesmo, é preciso que alguém morra para que a fantasia se realize.
pelo menos foi o que me disse, de maneira sentencioza, a minha professora do curso de roteiro. a felicidade fácil, tranquila, gera frustração. eu teria que matar meu projecionista. esse era o plano. ele morre, e então tudo acaba bem. tranquilo, cartasis.
não. meu corpo todo implora a esses dedos que não teclem esse fim para a minha pequena história. mas, estamos em França, e lá fora os -3,5 graus afetam os afetos. sou eu navengando contra uma corrente de flocos de neve - 100 km/h - só agora entendo que o frio nesse mundo não é frio, é mal, é qualquer coisa que faz mal, que ultrapassa qualquer sentimento de frio, por mais intenso que fosse, que eu pudesse jamais sentir.
é desse frio que eu sobrevivo, dia-a-dia, aprendendo o "bonjour, monsieur" para o simpático rapaz de vinte anos sentado à minha direita na ida do trem.
sólido gelo estrangulando (meu) corações.
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