Perdão.
Eu escrevi uma dúzia de vezes,
tentando achar um sinônimo para a minha culpa.
Mas acho que já não era culpa.
Saudades.
Era o que eu queria escrever...
Te deixei esta carta só em
pensamento.
Mas como é que se explica pra
quem se ama que a gente tem que fugir, tem que sumir pra não se consumir ?
Como é que eu te conto que eu
vendi meu carro, aquele carro, e sumi no outro lado do mundo?
Eu te amo.
Penso em você.
Uma rádio thaï alucina meu ouvido.
Sawadee ka !
Sawadee kup.
Onde eu fui te largar ?
Eu tive um sonho um dia. Tentei
te contar, mas você só comentou que o tempo andava muito seco.
Eu era um ser diferente dos
outros, eu vivia ao inverso. Nada mais acontecia de fora para dentro. Tudo se
passava dentro de mim, o mundo existia através do que eu via de dentro dos meus
pensamentos e se realizava no exterior do meu corpo. Meus olhos viam o que o
meu espírito previa.
Eu acordei assustada. Como num
ataque de claustrofobia.
Já pensou se a realidade
dependesse única e exclusivamente do seu próprio corpo ?
Hoje um artista me mostrou a
sua casa em Chiang Mai. É uma casa museu. Ela é quase vazia, poucos móveis
espalhados em um enorme espaço. Uma cama em meio a várias paredes frias. Uma
cadeira, onde podemos nos deitar. Uma obra dele. Nenhuma outra decoração. A
casa de concreto me parecia uma geladeira. Mas aí eu falava com ele e me sentia
bem naquele lugar vazio. Ele ocupava o espaço com suas palavras. Aquele lugar
numa poderia existir, se ele não morasse ali.
Hoje cheguei em uma nova
cidade. Chego aqui e penso em você. Ta calor, mas é úmido. Ouço o som das águas
que passam por baixo desse meu bangalô.
Amanhã volto ao trabalho. Tenho
um projeto. Um filme. Quem sabe.
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