quinta-feira, 6 de outubro de 2011

neve


primeiro dia de neve. meu coração estremece. em um cálculo besta, me lembro desses dedos de mármore que me tocavam há não muito. eu gritando, cantando um certo prazer cego, cheio de toques e cheiros bem milimetrados. ele me olhava de um jeito triste, como se tudo não fosse mais que um momento vago entre os lençóis daquele quarto frio. e se ele contasse aos amigos da brasileira vestida de vermelho em pleno inverno? e se eu escrevesse um filme sobre esse alemão de t-shirt azul? 
a neve engrossa, dez, dezoito centímetros do solo, e eu vou pisando firme nas lembranças leves que ele vai me deixar. nosso pequeno mistério é que vivemos em um futuro anterior, sem promessas. ele me liga, oi, eu respondo depois com um beijo, tchau. ele não entende o meu sussurro em francês mal pronunciado, e eu não levo a sério suas declarações encabuladas. eu sei que logo eu vou estar do outro lado da rua acenando para a amiga de casaco verde, e ele vai estar no alto de teleférico, dando um abraço no irmão pequeno. a gente é assim, é como a vida, é como a neve. de dentro para fora. floquinho a floquinho, enfeitando o espaço, cobrindo o ar, o mundo, e se desmanchando calmamente, quando o sol reaparece.

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