sábado, 21 de janeiro de 2012


cruz e tempestade, meu amor, eu tenho pressa.
não volte logo, volte sempre e sem demora.
a casa tá calma, o dia tá frio.
já tá fazendo tempo lá fora.
cruz e tempestade na soleira da saudade.
anda, meu, anda, vem depressa.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

ความสงบสุข


Perdão.
Eu escrevi uma dúzia de vezes, tentando achar um sinônimo para a minha culpa.
Mas acho que já não era culpa.
Saudades.
Era o que eu queria escrever...

Te deixei esta carta só em pensamento.
Mas como é que se explica pra quem se ama que a gente tem que fugir, tem que sumir pra não se consumir ?
Como é que eu te conto que eu vendi meu carro, aquele carro, e sumi no outro lado do mundo?
Eu te amo.
Penso em você.

Uma rádio thaï alucina meu ouvido.

Sawadee ka !
Sawadee kup.

Onde eu fui te largar ?

Eu tive um sonho um dia. Tentei te contar, mas você só comentou que o tempo andava muito seco.
Eu era um ser diferente dos outros, eu vivia ao inverso. Nada mais acontecia de fora para dentro. Tudo se passava dentro de mim, o mundo existia através do que eu via de dentro dos meus pensamentos e se realizava no exterior do meu corpo. Meus olhos viam o que o meu espírito previa.
Eu acordei assustada. Como num ataque de claustrofobia.

Já pensou se a realidade dependesse única e exclusivamente do seu próprio corpo ?

Hoje um artista me mostrou a sua casa em Chiang Mai. É uma casa museu. Ela é quase vazia, poucos móveis espalhados em um enorme espaço. Uma cama em meio a várias paredes frias. Uma cadeira, onde podemos nos deitar. Uma obra dele. Nenhuma outra decoração. A casa de concreto me parecia uma geladeira. Mas aí eu falava com ele e me sentia bem naquele lugar vazio. Ele ocupava o espaço com suas palavras. Aquele lugar numa poderia existir, se ele não morasse ali.

Hoje cheguei em uma nova cidade. Chego aqui e penso em você. Ta calor, mas é úmido. Ouço o som das águas que passam por baixo desse meu bangalô.

Amanhã volto ao trabalho. Tenho um projeto. Um filme. Quem sabe.


neve


primeiro dia de neve. meu coração estremece. em um cálculo besta, me lembro desses dedos de mármore que me tocavam há não muito. eu gritando, cantando um certo prazer cego, cheio de toques e cheiros bem milimetrados. ele me olhava de um jeito triste, como se tudo não fosse mais que um momento vago entre os lençóis daquele quarto frio. e se ele contasse aos amigos da brasileira vestida de vermelho em pleno inverno? e se eu escrevesse um filme sobre esse alemão de t-shirt azul? 
a neve engrossa, dez, dezoito centímetros do solo, e eu vou pisando firme nas lembranças leves que ele vai me deixar. nosso pequeno mistério é que vivemos em um futuro anterior, sem promessas. ele me liga, oi, eu respondo depois com um beijo, tchau. ele não entende o meu sussurro em francês mal pronunciado, e eu não levo a sério suas declarações encabuladas. eu sei que logo eu vou estar do outro lado da rua acenando para a amiga de casaco verde, e ele vai estar no alto de teleférico, dando um abraço no irmão pequeno. a gente é assim, é como a vida, é como a neve. de dentro para fora. floquinho a floquinho, enfeitando o espaço, cobrindo o ar, o mundo, e se desmanchando calmamente, quando o sol reaparece.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

prosa descabida, desmedida.

vontade absurda de me deitar nesse emaranhado de lençóis e ficar aí. horas, dias, séculos. esperando para ver o que se passa. contar carneirinhos, fechar os olhos, abrir os olhos. eu já fui. eu me vendo lá daquele lado da cama, farta, exausta. eu vivo desses cansasos [da alma]. se eu me jogasse em uma latrina, se eu saltasse dessa janela, se eu ouvisse Bach, e me desse conta de que de fato nada existe. então aí sim, eu me meteria coberta de mármore debaixo dessa fronha, dentro desses braços nus, e meu ouvido quente me diria que sim. em lugar qualquer, ainda há um coração.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

uma certa simpatia por genebra ?

Eu fiz essa descoberta e adoraria compartilhar. Sentada no ato mais clichê de todos neste starbucks no centro de Genebra, aproveito para roubar um pouco de internet e ler, ao som de um Marley bem usado, "O livro de areia" de Borges, em sua versão francesa e nostálgica dos seus últimos tempos em Genève. O que vem bem a calhar no momento. Daí tiro a minha grande conclusão : a literatura está sempre sempre tentando me salvar. E mais, acho que de vez em quando ela até que consegue. Os dois únicos romances que leio e li neste verão : "a insustentável leveza do ser" do Kundera e este tipo do Borges se passam de uma maneira ou de outra em Genève. Até então, a única figura com ar - mesmo que não dos mais nobres - literário que encontrei por Genebra, foi Paulo Coelho, que passou por mim perto de Bel-Air cité, entre os grandes bancos. Isso poderia ser um mau sinal, diriam muitos dos meus coleguinhas do curso de Letras, mas sei lá, tomei como coisa boa. Talvez seja mesmo a hora de acabar com esse meu horror por Genebra e começar a ver neste lugar um certo aprendizado : como uma cidade tão cinza e lenta pode ainda servir de cenário inspirador para essa minha amiga literatura. Aqui talvez não seja um lugar ideal para o meu cinema, as imagens são muito muito brutas, e esculpí-las seria um desastre. Mas esse ar genevois pode ser uma boa bruma inspiradora para metáforas e desvairios possíveis somente no mundo das letras. Estou começando a entender a voz calada desta cidade como algo de acidentalmente nobre, poético. Afinal, a tristeza é prato cheio para os versos. Vou aqui tentando andar de olhos fechados e ouvidos atentos para qualquer segredo que as brumas dos alpes queiram murmurar, e quem sabe um ou dois versos podem rolar por cá, por lá.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

aqui já foi


lindo e triste,
                    
                   ele disse.

agora

          é





                                          só




triste.






poisé morena, poisé.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

o que acontece é que eu perdi a paz. sinto que aos poucos um tipo de gelo foi tomando conta de mim, uma barreira inscosciente me transformando em uma moça bem educada. A primeira frase que ouvi na Europa foi : fale mais baixo, as pessoas aqui nunca falam alto. Nunca. o que acontece é que eu já perdi o fio das coisas, já nem sei mais quando é que eu deixei de ser eu e passei a ser eles. O fato é que é preciso tomar cuidado a cada passo que damos rumo ao norte. latinos não nasceram para esse tipo de migração, de clima, de estação. Cada frio que chega é de verdade, não é só ressaca de vento, é um sopro todo de gelo que vem de uma só vez e que ataca pele, sangue, espírito. Antes eu achava que tinha um negócio que pulsava aqui por dentro, agora há pedras, pedaços, cacos do que um dia já foi. Não era ainda a hora de vir para a Europa, talvez nunca fosse. O importante é entender que esses momentos chegam, a gente toma uma decisão e descobre um mundo triste, cheio de contradição. Quem dera eu pudesse voltar, poder voltar...já passou, é...passou.