sexta-feira, 28 de março de 2008

diario sentimental numero 1

não saber como agir. e assim se desculpa tudo. bebo demais, fumo demais, falo demais. depois me reencontro comigo. brava, largada, desolada, querendo retomar meu eu mais relicário em meio a tudo que extravasei. sentimentos, pensamentos, teoremas, até coisas ditas da boca pra fora demais, tentando parecer mais ágil, mais hábil, mais mulher, mais menina, mais alguém parecida com aquela que eu quero ser. não sou. não vejo. não sei. faço. demais. e nisso gostaria de saber conter. mas é que é tudo tão grande, é tudo tão vibrante, são tantas vontades, são tantas promessas, são tantas dúvidas, que me desencontro nesse labirinto. me desencontro de eu, e me estabeleço em um mim distante, preso a outras idéias, a outras cabeças. quem sou eu? navio perdido no mar da vida. cabeça desencontrada de um corpo. alma dispersa dos pés. ai ai asinhas, asitas, para donde me levarão?

eu. na verdade. nada. eu. na verdade. tudo.

de errado, de certo, de confuso, de exato.

eu. na verdade.

o meio termo?
cruzar as pernas, dobrar a alface, não fazer barulho quando beber, não beber muito álcool, fumar com elegânica, vestir com elegância, não falar alto, não se expor em público, não falar da vida pessoal, não amar a todos, não desamar ninguém, não ao sexo, não às feridas, verrugas e demais traços típicos da vida.

eu. (?)

meias fumé, cinta vermelha e um olhar fatal. elis. bebida. sexo. drogas. rock'n'roll. jazz para fortalecer.

eu?

disso nada ou tudo mais.

enquanto existir a presença

eu.

jamais saberei.

terça-feira, 25 de março de 2008

Água e vinho.

foi o vento.
e eu cantei o gismonti para dançar.
foi a voz.
e você fez café, acendeu o cigarro e girou o cd.
foi você.
e eu me debrucei na janela.
foi sua camisa azul.
e me vi nua no seu sofá.
foi a folha que caiu.
foi a terra que tremeu.
fomos nós.
e carcomemo-nos em olhos de águia.
foi o vento.
foi a voz.
foi o som.
fomos nós.

água e vinho derramados.

sábado, 22 de março de 2008

Nada.

E tudo aquilo que você me dizia ter certeza era nada. Um nada tão intenso que me tocava naquela calma preliminar de quem ama assim: preliminarmente. Olha para mim e me reconhece. Nada. Eu vejo todo o vazio nos seus olhos, e de repente me dou conta de que o vazio passa além, e transborda em lágrimas tão nulas que te fazem chorar também. O que eu queria não era isso, não era eu, e muito menos você. Você me pede calma. Você me pede compreensão: eu te amo, mas não vivo com você, não posso, dói. Dói é ver você se esquivar de mim por cordialidade, por ser assim, sempre tão habitual. E por acaso é habitual sentir? Claro que sim, a dor é nosso estado natural, meu amor. Nada. Você me olha e por fim me abraça. Que nada mais remoído, mais cheio de culpa, mais cheio de tudo. Que mãos carregadas de histórias que ficaram para trás, e para trás ficarão, nesse nada completo, como você foi um dia. Eu me afundo num desespero calado, fechado, preliminar, como tudo o mais; desespero único de quem te implora as respostas da pergunta nunca feita. Que aconchego foi esse? Que amor danado de doído foi o que você me deu? Eu sinto nada. Eu não

sinto mais nada.

E se tudo isso era apenas uma ausência, eu desisto. Você bebe, você fuma e se entrega aos vícios todos de onde não tiro prazer algum. Eu te espero. Eu te observo. Você não me diz . O que espera da vida? O que espera de mim? E o que espera do amor? Algum dia você soube o que era o amor? Algum dia soube entender esse sentir que me queimava tanto, há tanto, tanto tempo atrás? Eu olho para você e te reconheço. Meus olhos te mostram esse vazio que de tão vazio afunda nessa lágrima solitária. Como eu. Como você. Você ama. Eu amo. E o que você me diz, afinal?
Nada.

Na-da.

Quando sonho com você penso que algo muito doído está se transformando dentro de mim. Penso que sou feita de aços e cordas que te enlaçam até mesmo quando durmo. Você perto de mim demais e eu me fragilizo. Não tenho palavras nem atos com você. Sou muda. Sou nômade. Sou outras. Tento uma maquiagem que nunca funciona, um vestido novo, um falar novo, um cigarro novo que fumo tentando te encontrar dentro da fumaça do meu quarto. Você fica tão longe quando tento me aproximar de você. Sempre assim. Vou pra cama rapidamente com você por que acredito que funciona, que você vai entender esse meu ato de entrega precipitada e dizer que é feliz por me ter assim. Sua.

Não.

Você não me reconhece como sou, você não me beija quando beija meu pescoço, você não me ama quando faz amor comigo. Você não me ama nunca. E fujo de tudo isso em que eu me transformei. Vou para aquela wonderland que você supunha encontrar nos braços de outra, mais jovem, mais moderna, mais menina-mulher, mais, mais, mais. que eu. Você jamais saberá compreender a oportunidade que teve me tendo em seus braços, jamais entenderá a entrega a que eu me dispunha, jamais entenderá quem era eu. Você nunca me viu além de um corpo em chamas por você. Eu amei. E assim amarei uma eternidade. Você foi amado por inteiro, e assim não saberá jamais . Você jamais saberá ser amado de novo com a mesma intensidade.

Não se pode saber amado, se não se reconhece o amor.

sexta-feira, 21 de março de 2008

cinema:

houve sim um tempo em que a palavra falava mais alto. encantava em lá maior - e como eu adorava o lá maior. só depois é que ela passou a fazer parte do buraco mais fundo, me arrastando entre as paredes sujas do percurso.
aí, veio a luz, os olhos cegaram e o corpo passou a fazer parte de algo além. nem sei quando nem como foi. o coração desatou em luzes e espelhos que me inspiravam, era tudo fantasia: a mais cruel realidade.

terça-feira, 18 de março de 2008

à côté de chez quelq'un.

o sopro desabador de portas marré bateau. bateau. bateu le coeuração pesado num canto melódico do pensamento, onde um gato arranha minhas entranhas e aranhas me agarram com desprezo. sou less real-less: gosma de um sangue seco, boca rasgada, adormecida. sou passo-dado (past) dessa ferida. o fastama mais real. tous sont les fantômes, fan-te-homem. você pactuando com a minha amarga falsa mi hija ida, enquanto bob dylan me seduz em frente a milhões. fugir fugir. eu na velha lambreta do travolta, às voltas com louise, enchendo a cara em mullohand drive, desertando truffaut, amando john lennon. aos sexos e touchs com billie blue, que toca cítara no telhado, (yo) desabar nua em cima do louvre - (moi) l'ouevre d'art - télévision, cinéma, littérature. terra. take me home. take me home. recortes, cores, flashes do antigamente, desencontros marcantes something like "don't talk with strangers" (on a train). corri o mundo em 40 dias e me soltei: pura, leve, andorinha, por uma vida onde me perdi. I wanna fly way, take this world to yesterday, all my troubles seemed so far away. de asas quebradas só queria andorinhar por aí. o buarque, me chama e é hora de dormir léver léver leve sono. seis da manhã. seis e dez-e-nove horas, passou en retard la parole. não sou rainha je ne regrette de rien não sou princesa if shit could shit, it would smells just like jack. nem vadia la doce vita nem eu mesma. acordo nobre-claire-sex-seca.

domingo, 16 de março de 2008

Aos meus 16 anos.

Hoje me deu um arrepio tenebroso de saudade. quando coisas assim acontecem, é impressindível relembrar.

As dedicatórias:

Ao amado Lipe, um texto escrito para ele, e tão somente. Para que eu nunca me esqueça da sua sensibilidade extrema, sua luz, e que seu carinho continue eterno dentro de mim.

Em memória d'A Cólica, minha maior educação.

À Elisa Lucinda, por alguns ensinamentos básicos.

A todos os grandes pastelões e melodramas, inspiradores eternos.

Ao extinto grupo de estudos teatrais Diatribe, de onde trago este texto.

Travesti

Lava roupa todo dia, que agonia
Na quebrada da soleira, que chovia
Até sonhar de madrugada, uma moça sem mancada
Uma mulher não deve vacilar

(Tom de mulher barraqueira)

Uma mulher não deve vacilar. Uma mulher tem que lavar, passar, cozinhar e, acima de tudo, saber chorar e amar. Filho no colo, peito aberto: Mama, mama, mama...filho duma puta! (deboche) Puta? Quem? Eu?...Imagina, doçura. ( De susto) E por quê não? Mulher tem que saber ser puta também. Puta da mãe, puta do homem, mãe, puta, família, delicadeza e doçura.

(Em outro tom: de menininha)

Quando eu era pequena, minha mãe me dizia que tinha que ter jeito. Me vestia em cada vestido bordado que ela fazia, brinco pra lá de bonito...e, ai...aqueles sapatos!

(Barraqueira)

Gostosa? Gosssssstosaaaa sim, xuxu! E com muito talento!! (huhuhu)(Tom masculino de voz) Cole, ô rapa?! (tom bem feminino, até meio falso) Por que tipo de moça me tomas? Sou santa...san-ta! (gargalhada) Um salto no pé, um beijo na boca, roupa cintada, cabelo enfeitado...sabe como é: coisa de mulher.

(voz de homem)

“Mas deixa disso, homem! Pare com essas coisa, ta vendo...até parece que é qualira”

(mulher ofendidíssima)

Qualiraa? Bichona? Tra-ves-ti???Ah...eu rodo a baiana. sou é MULHER! Muito mais do que muitas por aí...que que adianta ter e não saber usar? Maquilagem, decote, mini saia...

Mulher é mais beleza e mais verdade em tudo. Já viu mulher morrendo? Eu já! E homem, já viu? Mulher quando morre mais parece que vai tirar o filho da forca, nunca vi: grita, esperneia.luta até o último. Homem não...homem quando vê a morte, já se afrouxa todo e morre de vez que é pra não dá trabalho. Mas mulher...mulher tem filho e marido esperando em casa, tem que fazer o jantar, lavar e passar...não pode morrer por uma merda qualquer não...e não morre.

É por isso que somos assim...Por que a sina de toda mulher é amar e sofrer. E aqui estou. MULHER...parada...calada...só esperando o dia de ser sofrida...ou amada..

(sentado em frente ao espelho tirando a maquiagem)

(vai escurecendo e cantando)

Eu entendo a juventude transviada
E o auxílio luxuoso de um pandeiro
Até sonhar de madrugada, uma moça sem mancada
Uma mulher não deve vacilar

(Escuro. Uma voz no microfone):

Numa pontinha do filme malfeito
no canto da tela
um travesti triste
no meio dos três tigres.
E lá fora,
o sol era assustador