sexta-feira, 27 de junho de 2008

Só pra constar.

Em um postal manchado de Jean-Luc Godard, a escritura:

Luis Fernando Carvalho,

do velho arcaico, ao jovem arcaico,
hipnótico e sifilítico e mestre de si mesmo
e maestro de todos nós.
Com admiração,

Bernardo Bertolucci.




*e o mundo é mesmo um lugar melhor.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Sólido gelo estrangulando corações

Dentro do olhar delicado é onde toco o horizonte
Na voz devastada por cacos de vidro, engulo nosso enorme edifício
O sangue rasgado, rojando em espaços de um concreto armado,
Meu coração desliza na poça de barro

De dedos em chagas evaporam borboletas de fogo
Asas quebradas e toque voluptuoso
Carros vagueiam por entranhas de um cérebro vasto
A única via possível é em vermelho vibrante: Percalço!

Aviões embreagados acordam os ouvidos sinceros
Da língua afiada, a mordida vira palha,
Queimando em fiapos esse mármore virgem,
Não trabalhado, corpo exaurido, de humor cultivado
Donde serpenteiam correntes de aço.

Resista, herói, aos tumores e ardores
A carne quente, aberta em feridas,
Sangrando desprendida do que é meu e seu
Segura essa saliva que corrói agora esses belos lábios
Dispersa a preguiça da exaustão de ser infinito
Ignora a construção perfeita disso chamado bem
Esfrega no seio a insegurança do despeito
Se joga nessa cama de pregos
Aguarda a redenção,
Ou te perde,
Ó, solitário coração.

domingo, 22 de junho de 2008

Ele me toca e, toda rubra, me fecho
Eu agrido aquelas mãos delicadas
Meus espinhos cravados
O sangue dele me acalma

Ele exala meus perfumes
Eu me desmancho suave em seu travesseiro
Minhas pétalas dispersas
O suor dele me acalanta

Ele me observa e caio pálida sob si
Eu escondo aqueles olhos de ferro
Meu orvalho escorrendo
O gozo dele me estremece

Ele chora em mim
Eu acaricio seu abraço
Minhas lágrimas derramando
O amor dele, meu encalço.

sábado, 7 de junho de 2008

Eu fechei aquela porta
Na poeira deserta
Na sobra do antes,
Sal de todo o afeto que aqui esteve

Eu fechei aquela janela
Com dedos fracos
Toquei a imensidão
Infinito de toques e cheiros
Dispersos na madeira ruída
Donde passeiam calcanhares
E rangem os amores

Eu levantei aquele lençol sob a mesa
O ar passando
Arrastando em si a poeira
Das ceias, das festas
Das meias jogadas.

Eu cerrei aqueles olhos,
Num prazer cego de entender tristeza
Num ruído silencioso de viver tragédia
Na esperança de ter conhecido amor

Eu tirei os meus sapatos
Com a calma de quem anda montanhas
Subi meus abismos
E encontrei aquele sorriso
A mão quente
Os pés gelados debaixo da fronha

Eu abri os meus braços
O vento sorriu
A blusa se abriu
A saia caiu
O moinho carregou os meus sentidos

Eu fechei os meus olhos
E permiti a correnteza
Levar meu corpo nu
Coberto de rubor
Cansado de pudor
Disperso, perdido, arrastado
Em cada grão da casa que restou.

os bitu.

estranho. estava eu catando as saudades do meu quarto, e me deparei logo com john-paul-george-ringo. uma coisa simples, que seria rever uma velha coleção de lps, me deu essa sensação amarga, triste, de quem perdeu entes queridos. me fiz pensar sobre as escolhas, sobre os caminhos que ando seguindo, tão diferentes do que eu sonhava. quinze anos, quinze anos que foram ontem, não faz tempo não, mas por que é que me parece ter abandonado uma vida inteira quando penso nesses meus quinze anos? cabelo comprido, óculos, aparelho ortodôntico, e uma vontade tremenda de ser rock star. por que é que eu larguei tudo isso? o paz e amor, os meu garotos que eu cultivava com tanto carinho? hoje percebi, miseravelmente, que os meus beatles de agora não são mais os de antes e a gente não pode carregar tudo de uma só vez nessa viagem que é a vida. os retalhos vão ficando jogados pelos anos e o que sobra é saudade, nostalgia, melancolia. no rio que os beatles correm, não tinha espaço para um monte de outras coisas, e eu tive que abrir mão, me entregar a novos acordes e melodias cada vez mais divididas. me sinto envergonhada por ter largado o que eu mais amava. mas acho que é isso aí: a gente fica e é a vida que corre na frente, levando as lembranças, memórias e amores, o que resta é pó, cicatriz antiga do que já se viveu.



you don't realize how much I need you, at the penny lane street, dancing with lady madonna, eating strawberry fields, while Lucy is wating for us in a sky full of diamonds. Eleanor Rigby showed compassion for you, and told Mr. Nowhere Man about all the little things you do; now he had invited us to join them at the yellow submarine, in a trip of knowledges, where we'll discover that all we need is luv, and fab four forever.

domingo, 1 de junho de 2008

re-começar. partir de um ponto qualquer que me conduza à eternidade desenterrada, des-coberta. atravessar continentes para me perder em outras línguas, em outros passos, outros suores. desconhecer mim mesma para desvendar eu. e por mais assustador que pareça deixar tudo, o abismo é desconcertantemente sedutor. deixar as pessoas, deixar os processos, inquéritos, débitos, deixar a responsabilidade que a convivência carrega. largar tudo e me permitir fazer parte do mundo. já sinto falta de tudo, e na minha saudade começo a gostar mais das coisas e pessoas do que antes. ilusão ilusão.