sábado, 7 de junho de 2008

Eu fechei aquela porta
Na poeira deserta
Na sobra do antes,
Sal de todo o afeto que aqui esteve

Eu fechei aquela janela
Com dedos fracos
Toquei a imensidão
Infinito de toques e cheiros
Dispersos na madeira ruída
Donde passeiam calcanhares
E rangem os amores

Eu levantei aquele lençol sob a mesa
O ar passando
Arrastando em si a poeira
Das ceias, das festas
Das meias jogadas.

Eu cerrei aqueles olhos,
Num prazer cego de entender tristeza
Num ruído silencioso de viver tragédia
Na esperança de ter conhecido amor

Eu tirei os meus sapatos
Com a calma de quem anda montanhas
Subi meus abismos
E encontrei aquele sorriso
A mão quente
Os pés gelados debaixo da fronha

Eu abri os meus braços
O vento sorriu
A blusa se abriu
A saia caiu
O moinho carregou os meus sentidos

Eu fechei os meus olhos
E permiti a correnteza
Levar meu corpo nu
Coberto de rubor
Cansado de pudor
Disperso, perdido, arrastado
Em cada grão da casa que restou.

Nenhum comentário: